Antes de ler este capítulo, recomendamos que leia "A História de Cleuriber - O Tormento (Parte II)".
Como um seguidor de twitter, o pai de
Cleuriber seguiu seu filho, calado e preocupado. É até de se estranhar que seu Joaquim
tenha atendido ao que Cleuriber pedia sem, ao menos, dar uma reclamadinha.
Todos em volta da mesa, olhando
atenciosamente um para o outro. O silêncio impera no ar, mas divide espaço com
a apreensão e o suspense, e permaneceu assim, até que um grito quebrou o clima:
_ Bora "minino tais pensano” que eu "sô" tu,
que não faz nada, é? – Berrou dona Elízea.
_ “Painho e mainha”, estou querendo falar
isso a muito tempo, “mai” nunca “tive corage”. Eu sempre... Sempre gostei de
umas coisas que eu sei que vocês “num” aprova. Antes de falar eu queria dizer
que vocês "são a coisa mai” importante da minha vida e que “num” importa o que aconteça,
eu sempre vou amar vocês. Mas eu andei “pensano” todos esses anos da minha vida
e cheguei a uma conclusão. Eu sou “homemsexual”.
Para a surpresa de dele, seus pais estavam
com um semblante suave, nem parecia que haviam acabado de ouvir uma revelação
daquela.
_ Eu “intendu” que vocês “precise” de um
tempo.
Essas ultimas palavras foram um escape para
que pudesse sair daquela situação o mais rapidamente possível. A prova é que
ele as disse, correndo em direção ao seu quarto, onde, depois de ter cumprido a
missão de sua vida, dormiu, como sempre.
No outro dia, quando acordou, teve medo de
sair do quarto, não sabia como olhar para os seus pais e nem para todo o bairro
que, nessas alturas, já devia estar sabendo. Por isso ficou no computador
cuidando da "fazendinha", contudo a fome apertou, então, só assim, teve “forças”
para vencer o medo.
Chegando na cozinha encontrou os pais da
mesma forma que estavam no momento da “grande revelação”.
_ Que “ingraçado”, vocês “tão” no mesmo lugar
de ontem.
Ouvindo o silêncio total.
_ Não façam isso comigo, eu sei que é difícil
pra vocês, mas eu tinha que contar. Pelo amor de Deus não parem de falar
comigo.
Mais uma vez silêncio total, eles ao menos se
mexiam parecendo fingir que não estavam naquele local.
Com a dor que a rejeição, de seus próprios
pais, havia causado, pegou seus trapos, que chamava de roupas, e saiu de
fininho. Queria que seus pais tivessem remorso por o terem rejeitado. Lá se vai
o pobre menino sem destino, até a casa da avó – ao lado.
Sem falar o verdadeiro motivo da mudança, ele
anuncia.
_ Vó, vim passar as férias aqui com a “senhora”.
_ “Mai” tu já vem aqui quase todo dia “mininu”.
Disse dona Elizabete, deixando seu único neto encabulado.
Então Cleuriber passou direto para o único
quarto da casa. Sem dar muita atenção para o que havia escutado joga sua
mochila em cima da cama dos avós e dorme. Essa rotina (escutar gracinhas e
reclamações da avó e dormir) se repete por vários dias até que escuta o barulho da
sirene do corpo de bombeiros. Esse não era um barulho comum, apenas a sirene da
polícia era comum por ali.
Então Cleuriber correu para a rua com o intuito de
ver o que havia acontecido (curiar). Depara-se com a sena de seus pais sendo levados, na
mesma posição que estavam na hora da grande “revelação”, para o carro do
resgate. Haviam sofrido um AVC com o que ouviram do filho, e só foram levados
ao hospital, porque um telefonema, misterioso, havia informado ao corpo de
bombeiros que dois senhores estavam sem sair de casa a um bom tempo.